Por que o Google Play Services agora é mais importante do que o próprio Android

Por: Eric Ravenscraft
2 de agosto de 2013

Na semana passada, o Google lançou uma nova versão do Android com pouco alarde e poucas novidades. Há uma razão para isso: o Google Play Services.
Em setembro de 2012, o Google lançou um novo app para a Play Store.
Ele permitiu que a empresa levasse novas funcionalidades aos usuários do Android 2.2 ou superior sem fazer uma atualização completa do sistema operacional.

Este app, o Google Play Services, foi o foco do último Google I/O. E, como o Android 4.3 demonstrou, ele é uma ferramenta poderosa para trazer novos recursos a usuários de versões antigas do sistema operacional.

Como esta nova plataforma funciona, e como ela é diferente do Android em si?

Android vs. Google Play Services

Para entender por que o Google Play Services é relevante, temos que entender exatamente o que é o Android. A maioria das pessoas assume que ele é um software do Google… mas isso nem sempre é o caso.
Tecnicamente falando, o Android é um sistema operacional para dispositivos móveis. Como ele tem código aberto, uma empresa pode usá-lo, modificá-lo e torná-lo seu, tudo sem envolver o Google.

O Kindle Fire é o exemplo mais óbvio disso. Ele roda Android, mas não tem a Play Store, nem qualquer serviço embutido do Google, ou mesmo qualquer menção ao Google. Em vez disso, a Amazon criou sua própria loja de apps, serviços de conteúdo e hardware. Isto é o Android: uma plataforma que qualquer empresa pode usar e modificar.

Google e Android são bastante entrelaçados, no entanto: para ter acesso à Play Store (ou, anteriormente, ao Android Market), as fabricantes tinham que aderir a um determinado conjunto de regras, e incluir certos apps e funções do Google. Isso manteve o Google no centro do sistema operacional em seus estágios iniciais. No entanto, o Google começou o processo de se separar do Android há muito tempo.

Muitos apps do Google já estão separados do sistema

Quando o Google lançou o Android 2.0, as preocupações com fragmentação já começavam a crescer. Um novo recurso incrível de navegação curva-a-curva estava prestes a aparecer no novo Motorola Droid (Milestone no Brasil). No entanto, ele também foi lançado no Android Market um mês depois. Isto começou uma tendência do Google lançar novas funcionalidades através de atualizações de apps, em vez de atualizações do sistema operacional.

Ao longo dos anos, Gmail, Search (incluindo o Google Now), Hangouts (antigo Talk), Chrome, YouTube, Agenda, e até mesmo o teclado padrão do Android foram desagregados do sistema e atualizados diretamente.
Com isso, o tempo de espera para novas funcionalidades caiu de meses para dias, desde que o dispositivo seja compatível.

O problema com este plano, porém, é não permitir que o Google atualize recursos do Android. Cada nova versão do Android traz novas APIs que os desenvolvedores podem usar. É por isso que alguns apps exigem a versão 4.0, enquanto outros podem funcionar até mesmo no Android 2.2 – os apps na categoria anterior exigem a nova API. Este é um problema para o Google, e é o motivo da “fragmentação” ser uma palavra tão ruim. Por isso, temos um novo plano.

Google Play é a nova plataforma

Neste ano, durante o Google I/O, a empresa anunciou uma série de novos recursos para dispositivos Android. Isso inclui, mas não está limitado
a:

•Play Games: conquistas, placares e sincronização de jogo com a nuvem •notificações sincronizadas entre dispositivos (quando suportado pelo app) •geofencing (o dispositivo realiza tarefas quando entra em uma área
predeterminada)
•reconhecimento de atividade (apps podem detectar quando você está andando, dirigindo etc.) •“Single Sign-On”, para fazer login automático nos apps com integração ao Google+ Há algo interessante que todos esses recursos têm em comum: eles não exigem uma nova versão do Android para serem implementados. Na verdade, ninguém no palco mencionou uma atualização do Android durante toda a keynote de três horas do I/O.

Em vez disso, esses recursos foram adicionados ao Google Play Services, que é compatível com Android 2.2 ou superior. Pela primeira vez em muitos anos, os usuários com um dispositivo antigo – que haviam sido abandonados pelos fabricantes – podem desfrutar de novos recursos que foram anunciados no I/O.

Em contraste, o Android 4.3 trouxe as seguintes funções:

•perfis restritos em tablets
•autocompletar no teclado de discagem
•rastreamento de localização via Wi-Fi sem deixar o Wi-Fi ligado •suporte a Bluetooth de baixa energia A maioria desses novos recursos é importante, porém seu efeito na base de usuários é menor. A sincronização de notificações (via Play Services), por exemplo, afetará apps em toda a plataforma; mas o autocompletar no discador (no Android 4.3) será visto apenas por uma minoria de usuários. Muitas fabricantes trocam o app de discagem por uma versão própria, em geral já com esse recurso; e ele também está presente em apps de terceiros.

O Google Play Services dá ao Google um palco para lançar novos recursos que são críticos para sua presença em smartphones e tablets.
Com ele, 98,5% dos dispositivos Android podem aproveitar as novidades do Google I/O (incluindo o Play Games!). Isso efetivamente resolve o problema da fragmentação, pelo menos para os recursos que saem através do Google Play Services, em vez de atualizações do Android.

O futuro ainda é incerto, porém mais promissor Tudo isso significa que as atualizações do Android em si não trarão mais novos recursos importantes? Certamente que não. Para começar, como vimos no I/O, as APIs já existentes ainda estão sendo introduzidas aos poucos no Play Services – então o trabalho ainda não está pronto. Também não podemos saber o que o Google está planejando para o futuro. A empresa não fez nenhum anúncio oficial sobre as suas intenções para futuros updates. Quando o Android 5.0 finalmente chegar, provavelmente isso trará alguns novos problemas quanto à fragmentação.

Mas está claro que, cada vez mais, o Google está trazendo novas funcionalidades para os dispositivos já existentes, sem que os usuários tenham que se preocupar com qual versão do OS eles têm. Não espere mais seis meses ou um ano para uma nova atualização com nome de sobremesa passar pela fabricante, operadora e chegar até você.
Dispositivos não são mais totalmente abandonados depois de dezoito meses por serem velhos demais.

Este é o ponto central do Google Play Services. Ela fica no seu celular ou tablet, silenciosamente, e traz novidades incríveis. Por exemplo, nos últimos meses, o Google levou ao Play Services o serviço, antes restrito ao Android 4.2, que verifica se os apps têm malware. Ou seja, seu celular agora está um pouco mais seguro do que antes, e nenhuma operadora ou fabricante foi envolvida nisso.

Quanto mais atualizações vierem dessa forma, melhor.

Fonte:
UOL